A CPI da Covid e as responsabilidades do Presidente da República
Por Carolina Saito
A iminência do colapso do sistema de saúde no Brasil foi alertada por diversos cientistas, mas as autoridades governamentais pouco ou nada fizeram para evitá-lo. No início do ano, o colapso em Manaus por falta de leitos de UTI e oxigênio deixou evidente a inércia do governo. No mês de março, o país alçou à triste liderança mundial ao contabilizar 58.924 mortos por covid-19.
Diante da grave situação e atendendo ao requerimento do senador Randolfe Rodrigues (Rede), no dia 08 de abril, o ministro Luís Roberto Barroso, do STF, determinou ao Senado a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as ações e omissões do Governo Federal na gestão da saúde pública frente à pandemia.
Acuado, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) passou a atacar o ministro Barroso e opositores; o presidente ainda pressionou seus aliados a incluir os governadores e prefeitos para desfocar as investigações. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM), autorizou a instalação CPI no último dia 13.
Desde o início, Bolsonaro se opôs à ciência, criticou o uso de máscara, o distanciamento e isolamento social e contestou eficácia das vacinas. Atacou os prefeitos e governadores que decretaram medidas restritivas para conter o contágio pela Covid-19, culpando-os pela crise econômica.
O presidente ainda colocou uma série de obstáculos para a compra das vacinas e recusou ofertas de vários laboratórios no ano passado. Hoje, a vacinação acontece a passos de tartaruga por escassez de vacinas e insumos para a sua fabricação no mercado mundial.
Vários estados estão sem kits para intubação por negligência do Governo Federal, que cancelou em agosto passado a compra desses medicamentos. A situação foi aliviada momentaneamente pela doação 2,3 milhões de kits para intubação por um grupo de empresas.
Muitas mortes poderiam ter sido evitadas se não fosse a opção nefasta do governo. Optou-se pelo negacionismo, pela desinformação e pelo tratamento precoce, que segundo pesquisas, não tem eficácia e tem causado problemas no fígado e até levado pessoas a morte. Optou-se em salvar a economia e não a vida dos brasileiros. Mas a economia dos banqueiros e dos grandes empresários. A economia dos micros, pequenos, médios empresários e dos trabalhadores nunca importou ao governo. Incapaz de sentir empatia e compaixão, Bolsonaro não se sensibiliza com a fome que atinge as famílias de desempregados e trabalhadores precários. O auxílio emergencial é fruto da pressão de parlamentares de oposição, mas seu valor vergonhoso é de responsabilidade do governo. Bolsonaro vive se eximindo de suas responsabilidades de presidente da República e culpando os outros pela crise.
Vivemos uma crise humanitária sem precedentes. O nosso país é considerado um exemplo de tudo que não deve ser feito em uma pandemia e uma ameaça para o mundo, segundo a imprensa internacional. Neste contexto, a CPI da Covid traz esperanças, pois existem provas aos montes dos crimes contra a saúde pública à espera de investigação. É preciso conter a sequência de perversidades que parecem não ter fim e que os responsáveis pelo caos e pelas mortes sejam identificados e afastados para, posteriormente, serem punidos pela Justiça.