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Vá contra a corrente! Use mais conta-corrente

Nunca antes na história deste país foram tão sedutores e insistentes os convites ao consumo e ao crédito. De tão melífluos lembram o canto das sereias que, para resistir-lhe, o célebre herói grego Ulisses fez-se amarrar ao mastro do navio. Cidadãos incautos, hoje, deixam-se seduzir pelo canto das sereias do consumo e do crédito fácil. E, depois, de tão encalacrados, não conseguem pagar suas dívidas.
Consumo e crédito se criaram juntos e, desde a mais tenra idade, conviveram num tetê-à-tête amoroso. E, indiferentes à aprovação ou não do casamento gay, casaram-se e geraram um filho irresistivelmente atraente: o consumismo.
Interessa aos governantes que cidadãos consumam mais e mais. Tanto que o ex-presidente Lula, em certa ocasião, aconselhou-nos a não parar de consumir. Que maravilha! Pimenta nos olhos dos outros é colírio! Que o diga a atriz Elke Maravilha. Ela, de sereia, ao seguir o esdrúxulo conselho do presidente, virou peixe e caiu na rede do consumo e crédito fácil. Depois, ao ser perguntada em que investia, desiludida, confessou: “Invisto mesmo é em ter amigos. Já tive imóveis, mas vendi tudo para poder pagar minhas dívidas. Hoje só uso conta-corrente. Não quero ter mais nada.” (Folha de S. Paulo, 6/8/2012).
Pior situação que a da Elke, só a do nosso prefeito, o probo, proficiente e promissor professor Eduardo, que não pode vender prédios e monumentos públicos para saldar a monumental dívida que herdou. Mas, é só não se deixar seduzir pelo canto das sereias e não cair nas peias que, inevitavelmente, surgirão em seu caminho, que logo ele sairá dessa caótica situação.
Quanto a nós, humildes cidadãos, após pagar os extorsivos impostos, temos que investir o que nos resta no estritamente necessário à nossa sobrevivência e realização: moradia, alimentação, saúde, educação, transporte, lazer, etc. É claro que o canto das sereias sempre nos convida a um consumo maior. Às vezes, para compensar o vácuo interior, a solidão, o tédio, a passividade, a ansiedade e até mesmo a falta de um sentido para a vida, entramos na corrente do consumismo. Foi assim, aliás, que surgiu a tão falada “sociedade de consumo”.
Hoje, em tal sociedade, “o espírito do consumo infiltra-se nas relações do consumidor com a família, com o trabalho, com a religião, com a política, com o lazer. Vivemos numa espécie de império do consumo em tempo integral, servido por um mercado diversificado que, a uma só vez, satisfaz e incentiva a ilimitada aspiração a novos prazeres.” (Gilles Lipovetski). Nós, no entanto, para evitar os desprazeres de não conseguir pagar as dívidas, precisamos impor limites a essa aspiração.
Isso se aplica a nós, aos países, Estados, municípios, empresas, clubes de futebol, etc. Que o digam os países europeus… e a nossa prefeitura. Como afirmam certos economistas, não há almoço grátis. E, muito menos, festas com shows de conjuntos famosos. Pão e circo, tem seu preço.
Nada, portanto, de seguir a corrente do crédito que, hoje, de tão fácil, tornou-se automático. À exemplo da ex-sereia Elke Maravilha, use mais conta-corrente e, acima de tudo, invista em ter amigos. Sem excluir, é claro, os endividados. Mas, também, sem deixar de aconselhá-los a ir contra a corrente e usar mais conta-corrente. Isso se eles ainda as tiverem. Caso contrário, serão seus fiéis e recorrentes amigos.

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