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Os brasileiros precisam reagir

Carlinhos Marques

A Operação Lava Jato, que começou em 2009, parece estar ainda longe do seu fim. A investigação iniciada pela justiça federal em Curitiba tem descoberto, entre outras coisas, uma profundidade muito maior daquilo que já se imaginava na política nacional. As últimas delações premidas, do Grupo Odebrecht e da JBS, com algumas informações já comprovadas, mostram como financiavam as eleições no país. O que nos deixa ainda mais estarrecidos é o fato de que, pelo que foi apresentado, existem ainda muito a ser descoberto, a participação de muitos outros políticos envolvidos e de outras grandes empresas do país, que financiavam campanhas eleitorais e vidas luxuosas de políticos, para receber influências e poder de decisão no Governo.

Os políticos eleitos na eleição nacional e estadual de 2014, maior parte deles, foram os que tiveram a disposição a maior quantia de recursos empregados em suas campanhas. Destes recursos, JBS, Odebrecht, OAS e outras empresas investigadas na Operação Lava Jato estão entre os maiores doadores. Politicamente, isso significa que quanto mais se investir na campanha eleitoral, maior é a probabilidade de ser eleito. Embora vivamos em uma “democracia”, o que define quem serão os nossos governantes e legisladores é a decisão dos eleitores influenciados por campanhas milionárias custeadas com recursos recebidos ilicitamente, aceitos por aqueles que se sujeitam a defender interesses que não são de seus representados, mas dos financiadores.

Além dos altos valores recebidos para manter-se eleitoralmente, políticos, como o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), utilizavam de benesses dos empresários – beneficiados por eles – para viver vidas luxuosas com dinheiro da corrupção, não bastasse os honorários dos governantes e legisladores, que já estão muito acima da média nacional. O jornal Folha de São Paulo, em 2013, apontou o Brasil como o segundo país em que os congressistas estão entre os mais caros do mundo. O levantamento feito pela Organização das Nações Unidas (ONU) apurou 110 países. Cada um dos 594 parlamentares no Brasil (são 513 deputados e 81 senadores) custam aos cofres públicos cerca de US$ 7,5 milhões por ano, ou seja, R$ 24 milhões. Não bastasse o valor alto do parlamento, existe ainda a ‘corrupção’ em que os valores não dá para serem apurados. Somente a JBS, em delação premiada, disse que distribuiu a políticos e partidos cerca de R$ 600 milhões nos últimos anos, 90% como contrapartida.

É preciso que haja uma reação. Os brasileiros que foram as ruas maciçamente em 2013 por conta de um aumento de 20 centavos na tarifa dos ônibus, reagem timidamente a maior descoberta de corrupção de nossa história. Estão tímidos diante de um chefe de estado que, em conversa gravada, defende obstrução a justiça, intimidade com um empresário que confessou em delação ter comprado a tudo e a todos para satisfazer seus interesses.

Ficar quieto neste momento, significa aceitar calado os desmandos dos ‘corruptos’, aceitar nossa economia nacional medíocre, enquanto aqueles que nos ‘representam’ gozam de direitos lícitos que são imorais e ilícitos que são nojentos. Ou o país reage agora ou aceitará o sistema imposto, predominante, que nos causa, a cada dia, retrocessos econômicos e políticos imensuráveis. Precisamos defender o fim da impunidade, do foro privilegiado, redução das cotas parlamentares, um congresso mais enxuto, diminuir recursos do fundo partidário, fazer valer a Lei do Teto dos Gastos Públicos também para as despesas dos governantes, e não somente para os investimentos do Governo, criminalização do enriquecimento ilícito de agentes públicos, transformar corrupção em crime hediondo, não permitir a anistia ao Caixa 2, reforma política, eleições diretas e gerais antecipadas, para que o Brasil possa decidir os futuros governantes e novas congressistas mais brevemente.

Enfim, ou o Brasil reage ou aceitará, quieto, o buraco cada vez mais fundo que está inserido.

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