Moro: juiz ou justiceiro?
Ana Cristina Piletti
Sérgio Moro tornou-se a figura central da Operação Lava Jato, maior investigação de crimes de corrupção e de lavagem de dinheiro entre políticos e executivos de grandes empresas já realizada no Brasil. A sua atuação foi decisiva no processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff e gerou polêmica entre defensores e críticos dos seus métodos.
De um lado, grande parcela da população brasileira elegeu Moro como o “salvador da pátria”, símbolo da justiça e da esperança de um país mais íntegro diante da corrupção escancarada. Em 2016, ele foi eleito para a lista das 100 pessoas mais influentes do mundo da revista americana “Time”. Para seus defensores, o juiz especializado em crimes financeiros tem agilizado os processos judiciais brasileiros com suas meticulosas e rápidas decisões. Famoso por revelar informações dos suspeitos e incentivar as delações premiadas, foi considerado pela revista “Time” um líder capaz de transformar uma cultura de corrupção que há muito tempo tem prejudicado o país.
Por outro lado, os métodos utilizados na operação pelo juiz têm sido alvo de críticas de muitos de seus pares e advogados da oposição. Eles repreendem a sua imparcialidade. Alegam que o princípio do devido processo legal, ou seja, a garantia a um processo com todas as etapas previstas em leis, tais como o contraditório e a ampla defesa, não tem sido totalmente respeitado pelo juiz. Há também aqueles que acreditam que há segundas intenções políticas nas ações do juiz. Além disso, Moro já foi chamado de justiceiro, isto é, o antagonista que faz justiça com as próprias mãos, sem considerar a própria lei.
Enfim, as opiniões são divergentes e os argumentos factíveis de discussões. Fica claro que em uma sociedade na qual a lei é válida, mas os meios para que ela seja efetiva são corruptíveis, buscam-se outros meios de se fazer justiça. No entanto, ficam as perguntas para reflexão: Como definir justiça neste tipo de sociedade? Será que devemos adotar procedimentos duvidosos em relação às nossas funções para fazer algo que acreditamos ser benéfico para todos?