Folia sem fim
Ana Cristina Piletti
O carnaval é a festa popular mais esperada do ano no Brasil. As comemorações fazem parte da nossa identidade cultural e são um atrativo turístico para milhares de estrangeiros. Mesmo com a crise econômica, em 2016, só no Rio de Janeiro, o evento atraiu mais de um milhão de turistas e movimentou R$ 3 bilhões (EBC, 11/02/2016).
No entanto, o cenário não é tão otimista para 2017 uma vez que pelo menos 70 cidades brasileiras cancelaram as comemorações de carnaval e houve uma significativa redução nas verbas e patrocínios às escolas de samba. No Rio de Janeiro, cerca de 55 blocos não sairão às ruas por falta de patrocínio. Em Salvador, 10% dos gastos públicos com a festa serão cortados (Isto é, 27/01/2017). Somado a isso, a crise na segurança pública ameaça a alegria dos foliões e escancara os problemas sociais que assolam o país.
De um lado, como afirmou o jornalista espanhol Juan Arias, a situação política do Brasil é um banquete para os artistas da sátira, ou seja, um campo fértil para os compositores dos sambas enredos e produtores dos desfiles. É uma oportunidade de reforçar o caráter de crítica política desta festa tão representativa das características e das tradições do povo brasileiro.
Do outro lado, a população cansada das repetidas folias dos seus políticos, empresários e governantes, aproveita a data para extravasar e esquecer os problemas. E, é aí que mora o perigo. Enquanto o cidadão se diverte, os “figurões” da política articulam novos projetos e medidas, muitas vezes impopulares, para serem votadas logo após as festividades.
Enfim, visto como o país do carnaval, para muitos brasileiros, o ano só começa depois deste período. Seja para cair na folia, seja para cair na cama e descansar, temos quatro dias para extrapolar ou para pensar. Esperamos, porém, que depois da ressaca do carnaval, a folia termine e a criatividade, funcionalidade e eficiência desta tradicional celebração inspirem e animem os responsáveis pela tão desgastada economia e política do nosso país.