Doria: as razões da vitória
Claudino Piletti
Não é preciso ser nenhum cientista político para saber as razões da vitória, já no primeiro turno – coisa inédita em São Paulo – do candidato João Doria. A principal razão é, certamente, o desencanto dos eleitores com a política e a consequente aversão aos políticos. É por essa razão que votaram num candidato que diz não ser político. É esta a razão, também, pela qual votos brancos, nulos e abstenções chegaram a quase 40%.
Tal é o desencanto com a política e a aversão aos políticos que, sujeitos decentes, se recusam terminantemente a se tornarem políticos. E, quando aceitam, se dizem não-políticos. Ou fazem como aquele que pediu: “Não conte a mamãe que entrei para a política. Ela ainda pensa que eu toco piano no puteiro.”
A culpa pela situação da nossa política não é dos eleitores e nem da imprensa. É da falta de ética dos que se dizem políticos. A maioria deles, no entanto, se declara inocente. Alguns, inclusive, dizem que a culpa é o do PIG, isto é, Partido da Imprensa Golpista. Na realidade, a culpa é de outro PIG: o Partido dos Idiotas Gananciosos.
O significado da palavra idiota, em sua origem grega, refere-se ao indivíduo que só se preocupa com o seu bem particular. E, por um estranho paradoxo, é justamente este indivíduo que entra para a política, palavra esta que em sua origem grega significa comunidade. E, político, na antiga Grécia, era a pessoa que dedicava parte de seu tempo para o bem da comunidade. Então, política, não era uma profissão, como parece ter se tornado em nossos dias.
Doria, o prefeito eleito de São Paulo, afirmou que doará seu salário cada mês a uma instituição filantrópica e que, no fim de seu mandato, deixará o cargo, pois é contra a reeleição. Se ele agir dessa forma, será uma exceção que, no entanto, deveria ser a regra. É claro que nem todo político pode renunciar ao salário. Bastaria, porém, que renunciasse à corrupção e passasse a se preocupar também com o bem da comunidade, como fazem os verdadeiros políticos, e não só se preocupar com o próprio bem, como fazem os idiotas. Podemos dizer, portanto, que os idiotas são a personificação das razões da vitória do Doria.