O vereador e o varredor
Glória Piletti
“Me dá uma força que, se eu ganhar, depois te encaixo lá dentro”: esta foi a proposta de um candidato a vereador a um varredor de ruas. E, não se trata de uma ficção, pois ela me foi contada pelo próprio varredor que a recebeu e a recusou.
A realidade é que muitos candidatos a vereador nem sabem qual é a verdadeira função de um vereador. O mesmo ocorre com muitos eleitores que, com seu voto, elegem os vereadores. E, o pior, é quando o fazem em troca de algum benefício. Nisso, não seguem o exemplo do varredor.
A palavra vereador vem de “verear”, que significa administrar. Ela é proveniente de “vereda”, isto é, caminho, direção. No Brasil, vereadores são os membros das Câmaras Municipais. Compete a eles exercer a função legislativa, ou seja, votar as leis municipais, principalmente a lei orçamentaria, fixar o próprio salário e aquele do prefeito. Compete a eles, também, fiscalizar as ações do prefeito e, até mesmo, decretar o seu “impeachment”, se for o caso.
Cabe a todo vereador, como a todo representante do povo, o dever de agir no interesse comum, sem colocar acima de tudo, a conhecida lei de Gerson, ou seja, a de tirar vantagem em tudo.
A função de um eleitor é a mesma do que a de um varredor. Compete a ele varrer dos cargos públicos todos os que são indignos de exercê-los. E, não há ninguém mais indigno de exercer cargos políticos do que um corrupto. Ora, todo candidato que faz uma proposta indecente em troca do voto, já demonstra que é um corrupto.
Outra função importantíssima de um eleitor, é fiscalizar o que faz o vereador que ele ajudou a eleger. E, também, cobrar-lhe o que prometeu. Não, é claro, em termos de vantagens pessoais para o eleitor, mas para o bem comum.
Se o varredor não varre as ruas, logo a cidade estará cheia de lixo. E, se um eleitor não exercer sua função de varredor, depois não poderá reclamar do “lixo” que se tornou a nossa política. É claro, no entanto, que é bem mais fácil varrer o lixo das ruas do que o lixo que, atualmente, infesta a política.