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Para inglês ver e rir

No tempo da Revolução Industrial, os ingleses se deram conta de que o nosso sistema de escravidão era um empecilho para a venda de seus produtos, pois, não tendo salário, os escravos não podiam comprá-los.
A Inglaterra, então, passou a pressionar o Brasil a acabar com a escravidão. Grandes proprietários  de terras e de escravos, porém, se opuseram. Como o Brasil   dependia muito da Inglaterra, criou um conjunto de leis anti-escravistas, mas sem intenção de aplicá-las. Por isso, receberam o nome de “leis para inglês ver”.
Hoje, são para inglês ver, os nossos partidos políticos e ministérios. Enquanto os ingleses têm, basicamente,  dois partidos nós temos 32. E, enquanto eles têm 24 ministérios, nós temos 40. Além disso, eles são  ordeiros  além da conta. Tanto que, o escritor inglês, George Mikes, afirmou que “ um inglês, mesmo que esteja  só, forma ordenadamente uma fila de uma pessoa”.
Ao falar de partido político, nosso poeta Carlos Drummond de Andrade definiu-o como sendo “agrupamento  de cidadãos para defesa abstrata de princípios e elevação concreta de alguns cidadãos”. Mas como disse alguém,  “nenhum partido político é tão ruim quanto seus líderes”. Por isso, abstrata e concretamente, na política, os ingleses podem fazer, aqui, um curso de pós-graduação. E, não só em política, mas também, na religião e culinária.
A propósito, o filósofo francês Voltaire (1694-1778), se indagava: “Como pode sobreviver uma nação como a  Inglaterra, que tem 42 religiões e apenas 2 molhos?” E eu me pergunto: “ Como pode sobreviver  uma nação como  a Inglaterra que não tem um Ministério da Pesca? E, mais grave: não tem um Tiririca? E, grave ao quadrado: não têm partidos nanicos, que nos custam boa grana, mas nos divertem um bocado.
Agora, deixando de lado tais questões metafísicas, falemos das virtudes dos ingleses. Para o escritor inglês Kingsley Amis, a maior virtude de seus conterrâneos talvez seja sua “apatia política inata e tédio real que lhes inspiram causas,  movimentos e idéias.” Enquanto isso, nós brasileiros, que temos uma infinidade de molhos e religiões, partidos e  ministérios saindo pelo ladrão (e põe ladrão nisso!), não precisamos desenvolver a virtude da apatia política, pois, a política  nos diverte. Vivendo no país da “piada pronta”, onde palhaços viram políticos e,  políticos, viram palhaços, o tédio não tem vez.
Que dó dos pobres ingleses! Quem manda eles terem poucos partidos, ministérios, molhos e religiões. Não é à toa  que, como observou o escritor inglês William Somerset Maughan (1874-1965) ,mesmo quando se divertem, os ingleses  conservam um olhar triste e solene. Que venham rir com a gente. Mas, só depois das eleições, pois, eleição é coisa séria.
Por isso, mesmo sendo um tanto difícil, vote com seriedade. Boa eleição!

Claudino Piletti

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