Encruzilhadas Poluídas
Cada eleição é uma encruzilhada, onde eleitores decidem que caminho tomar. O problema, atualmente, é que nessas encruzilhadas há pouca informação e muita poluição, sobretudo sonora e visual. São músicas, cartazes, placas e bandeiras tremulando, oferecendo quase só produtos com validade vencida. Cada encruzilhada é uma ilha de caras que, passa eleição e entra eleição, não mudam. Até parece que, os políticos, à semelhança do Sílvio Santos, nunca envelhecem. De duas uma: ou eles, em suas casas, não têm espelhos ou, talvez, considerem os eleitores uns fedelhos, isto é, crianças ingênuas.Mas, as manifestações de junho do ano passado mostraram que os eleitores, sobretudo os jovens, sabem o que querem e o que não querem. Entre outras coisas, eles já não querem esses políticos convencionais com suas caras e slogans sempre iguais. A maioria desses sujeitos já não dá respostas às demandas da sociedade. Tanto que, os partidos políticos foram expulsos das manifestações de junho. O problema, no entanto, é que a política ainda é a única forma de intermediação entre a sociedade e as instituições que foram criadas para atende-la. Por isso, desistir da política equivaleria, de certa forma, a desistir do Brasil, indo, assim, contra o que nos disse Eduardo Campos no final da entrevista ao “Jornal Nacional”: “Não vamos desistir do Brasil”. Desistir do Brasil é entregar-se ao desânimo e nada fazer para mudar, de fato, a situação. Aliás, os principais candidatos a presidente e outros cargos falam permanentemente em mudança, mas sem apontar nada de concreto a ser alterado. Isto faz-me lembrar do escritor italiano Giuseppe di Lampedusa, autor da afirmação irônica segundo a qual é preciso mudar para que tudo fique como está. Por enquanto, a única mudança concreta e visível é a poluição sonora e visual que infesta as encruzilhadas.
Claudino Piletti