A Cultura no Século XXI
As discussões sobre o que é cultura não são recentes. No entanto, podemos afirmar que não há uma única definição para o termo cultura. De maneira geral, compreendemos a cultura como um conjunto de artefatos, valores, ritos, língua, costumes, símbolos e comportamentos de determinada sociedade. A cultura, portanto, é composta por bens tangíveis e intangíveis que caracterizam determinado grupo social. A pergunta é: existe uma cultura melhor do que outra?De acordo com os representantes do evolucionismo cultural, faz sentido pensar a cultura como parte do processo civilizatório. Assim, ela poderia ser planejada e aprimorada ao longo do tempo. Por exemplo, a forma de viver das sociedades industriais representaria uma evolução cultural em relação à maneira de viver das sociedades agrárias. Este modo de pensar a cultura, portanto, é muito criticada atualmente. Representantes do pluralismo cultural defendem que existem diversas culturas e que não é possível avaliar ou julgar se uma é melhor do que a outra. Porém, as duas posições são complexas. A primeira porque pode nos levar a um julgamento preconceituoso em relação ao outro. Segundo o pesquisador português Paulo Finuras “uma cultura não tem critérios absolutos para julgar as atividades de outra cultura como melhor ou pior, superior ou inferior”. Por outro lado, o particularismo cultural pode cair na sua própria armadilha relativista. Ao considerar que todas as culturas tem igual valor, por exemplo, como justificar políticas culturais que definem regras sobre o progresso e a valorização cultural de um país? De acordo com James Rachels “progresso significa substituir uma forma de fazer as coisas por uma melhor. Mas, segundo qual padrão julgamos que uma nova forma é melhor?” Por isso, dizer que algo é melhor, segundo o relativismo cultural, seria impossível. Assim, todo e qualquer projeto ou manifestação cultural deveria ser compreendida e não avaliada.O relativismo cultural nos ensina duas coisas importantes: 1) muitas de nossas práticas e valores estão relacionadas a um determinado contexto e por isso não podem ser avaliadas a partir de um padrão racional absoluto; 2) devemos ter a mente aberta para aceitar e conviver com a diversidade de crenças, idiomas, comportamentos, etc. Por outro lado, podemos aprender com os universalistas que existem valores que são comuns a todas as culturas porque são essenciais para a sobrevivência da sociedade como o direito a vida e a dignidade humana. Enfim, essa discussão serve para refletirmos sobre os dilemas culturais do século XXI. A crise na Ucrânia, por exemplo, além de política e econômica, também é uma crise cultural. Habitantes da Criméia reclamavam da política nacionalista da Ucrânia já que se identificavam com os costumes, língua e valores russos. Recentemente, o arbitro e um jogador de futebol brasileiro foram vítimas de racismo. Estes casos ilustram o quanto é difícil entender, respeitar e dialogar com o outro e que mais do que um discurso ou uma política a favor do respeito às diferenças, é preciso desenvolver competências interculturais em cada cidadão do mundo.
Ana Cristina Piletti