Ensino Superior no Brasil – Tendências e Desafios
De acordo com dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP, set. 2013), no ano de 2012 o número de alunos matriculados no ensino superior brasileiro foi de aproximadamente 7 milhões, o que representa um aumento de 4,4% em relação ao ano de 2011. Ainda, de acordo com as informações, estes alunos estão distribuídos em 31.866 cursos, oferecidos por 2.416 instituições, sendo 304 públicas e 2.112 particulares. Diante destes números, podemos refletir sobre duas tendências e desafios centrais para a educação superior no Brasil: 1. Democratização: Refere-se aos movimentos e políticas públicas que visam tornar o ensino superior acessível para todas as classes sociais. Alguns programas governamentais conhecidos com esta finalidade são o PROUNI (Programa Universidade para Todos) implantado em 2005 com o objetivo de conceder bolsas integrais e parciais para estudantes de baixa renda em Instituições de Ensino Particulares e o FIES (Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior) criado em 1999 para financiar a graduação na educação superior de estudantes que não apresentam condições financeiras para realizar seus estudos. Tais programas colaboram para o ingresso e permanência dos estudantes na graduação, no entanto, não garantem a qualidade na formação destes alunos. Segundo o sociólogo José Pastore “Ocorre que a explosão de escolas superiores não foi acompanhada pela melhoria da qualidade. A grande maioria das novas faculdades é ruim”. 2. Qualidade: Em matéria publicada na BBC Brasil (out. 2013) foi ressaltado o descompasso entre o número de formandos no ensino superior brasileiro e a dificuldade de encontrar mão de obra qualificada para ocupar vagas no mercado de trabalho. De acordo com Maíra Habimorad que atua em uma empresa de recrutamento: “Cadastramos e avaliamos cerca de 770 mil jovens e ainda assim não conseguimos encontrar candidatos suficientes com perfis adequados para preencher todas as nossas 5 mil vagas”. Neste sentido, por mais que as políticas públicas tentem avaliar e monitorar a qualidade do ensino superior ainda há grandes lacunas neste campo. Conforme dados do Instituto Paulo Montenegro, órgão de pesquisa vinculado ao Ibope, o número de analfabetos funcionais, ou seja, pessoas que não conseguem interpretar o que leem, chega a 38% entre universitários brasileiros. Desta forma, o professor Tristan McCowan da Universidade de Londres, que estuda o sistema educacional brasileiro afirma que o ensino superior acaba “sendo mais uma extensão do ensino fundamental”. Para McCowan, esses cursos trazem “muito pouco para a sociedade: não aumentam a capacidade de inovação da economia, não impulsionam sua produtividade e acabam ajudando a perpetuar uma situação de desigualdade, já que continua a ser vedado à população de baixa renda o acesso a cursos de maior prestígio e qualidade”.Assim, fica a questão: É possível promover a democratização do ensino superior com qualidade? Com certeza, há muitos fatores que implicam na disparidade entre qualidade e democratização, em especial as atuais condições da educação básica pública no Brasil e as leis da economia de mercado que, para sobreviver, pressionam as instituições de ensino superior em sentidos opostos: a) Oferecer preços baixos, selecionando minimamente os ingressantes e ofertando um ensino de qualidade básica ou b). Cobrar preços altos, selecionando ao máximo os ingressantes e ofertando um ensino de qualidade superior. Enfim, não há milagres, como já explicava o sociólogo Pierre Bourdieu: “É provável por um efeito de inércia cultural que continuamos tomando o sistema escolar como um fator de mobilidade social, segundo a ideologia da ‘escola libertadora’, quando, ao contrário, tudo tende a mostrar que ele é um dos fatores mais eficazes de conservação social (…)”
Ana Cristina Piletti