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Ambiente, sociedade, economia e saúde de Ibiúna

Estimular o crescimento econômico é uma das principais metas de qualquer governante e a oferta de energia é uma das restrições a esse crescimento. O problema é que o incentivo ao crescimento econômico está associado ao estímulo de investimentos em projetos de infraestrutura, que estão relacionados a elevados recursos financeiros e principalmente, impactos socioambientais em regiões que nem sempre, serão beneficiadas pelo montante de investimento, ao menos em proporções adequadas.
No entanto, a demanda econômica e social por recursos naturais e produção de alimento na região, que não se trata diretamente da demanda do município, mas sim dos municípios vizinhos  – e inclusive da região metropolitana de São Paulo -, induz a ampliação de novas áreas, não somente para plantio, mas também de mineração, na cidade de Ibiúna. Essa questão há tempos pode ser considerada como politicamente insustentável e irresponsável, vide as conseqüências socioeconômicas e ambientais atreladas ao processo de mineração existente.
Não se pode negar, ainda que a contraponto, a real necessidade de outros recursos naturais – a exemplo da areia – para subsidiar o desenvolvimento e progresso dessas regiões, principalmente, pelos inquéritos registrados no batalhão da Polícia Ambiental de Sorocaba, que é responsável por esta região, devido a exploração e comércio clandestino. Mas esse não é o foco, pois este ensaio não se trata de denuncia, mas sim de atenção para um cenário apocalíptico, caso a percepção coletiva não seja alimentada de forma adequada.
Voltando a questão da exploração, o Grupo Votorantim já solicitou à Prefeitura de Ibiúna, manifestações técnicas para mineração de areia e derivados em uma área de inundação do Reservatório de Itupararanga pertencente à Companhia Brasileira de Alumínio – CBA, onde pretende-se implantar uma unidade de extração e beneficiamento de areia. A produção mensal prevista é de 30.000 m³, com extração de 6.000 m³ mensais de argila na planície fluvial dos rios Sorocaba, Sorocamirim e Una – rios esses formadores do rio Sorocaba e do reservatório de Itupararanga. Logo, a pretensão do empreendimento é que seja instalado a montante da nascente do rio Sorocaba, portanto, acima do reservatório responsável pelo abastecimento de Sorocaba e região. Concluindo, um perfeito e completo absurdo social econômico e ambiental não somente para Ibiúna, mas estendido a toda região.
O processo de alteração ambiental, social e econômico em regiões com essa suscetibilidade, gera uma série de movimentos migratórios, ocasionados justamente por essas intervenções e alterações, resultando tanto na dispersão de doenças existentes nas regiões dos emigrantes como no aumento dos índices nas regiões alteradas, no caso, a Estância Turística de Ibiúna.
Se a doença é uma manifestação do indivíduo, a situação de saúde é uma manifestação do lugar. Desta forma, basta olhar ao redor e perceber a crueldade da herança deixada na cidade de Ibiúna, que somada à responsabilidade de “celeiro” produtivo para a região, resulta numa cidadania mutilada.
Em tempos de avançada compreensão dos processos naturais como essencial meio para a qualidade da saúde social, é inaceitável que o modelo de exploração dessa “Estância Turística” seja colonial, sem método, sem controle e comunicação social adequados e,sobretudo, sem habilidade técnica, política e administrativa entre o poder público e a iniciativa privada e partidária.

Biólogo Gustavo Soares Leão – Mestre e Doutorando em Saúde Coletiva pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas, foi Diretor de Meio Ambiente do Município de Ibiúna entre 2010 a 2012, lecionou disciplinas de planejamento territorial, sistema de informações geográficas e geoprocessamento na Universidade de Sorocaba – UNISO e UNESP / Campus Sorocaba, atualmente é Pesquisador e Consultor nas áreas de Saúde e Meio Ambiente.

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