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Semeadores e Ladrilhadores: Governos Pós-Eleições Municipais

Por Luis Fernando Martins Grohs

Após as eleições municipais, inicia-se uma nova fase da governança, onde a população passa a observar com maior atenção o desempenho dos gestores eleitos. Podemos associar a atuação desses governantes às figuras do “semeador” e do “ladrilhador”, metáforas utilizadas por Sérgio Buarque de Holanda em sua obra Raízes do Brasil.

Esses dois tipos ideais refletem modos distintos de agir: o semeador, que lança sementes de forma dispersa, sem seguir um plano rígido, e o ladrilhador, que assenta ladrilhos e azulejos com método e organização, cada ação pensada para um encaixe perfeito. Sérgio Buarque de Holanda compara a colonização espanhola, marcada por cidades planejadas em quadriláteros organizados com a portuguesa, mais improvisada, com ruas tortuosas. Enquanto os espanhóis buscavam ordem e controle urbano, os portugueses adaptavam-se ao relevo e às circunstâncias locais, refletindo uma colonização mais provisória e exploratória.

Assim como o semeador, muitos gestores eleitos iniciam sua administração lançando projetos de maneira impulsiva, sem um planejamento racional do terreno social e econômico em que estão inseridos. Esse tipo de governante busca resultados imediatos, sem considerar as implicações de longo prazo ou as necessidades mais complexas da população. Por outro lado, o ladrilhador age com maior racionalidade, que planeja todas as atividades, antes de cumpri-las, garantindo que cada passo seja dado de forma pensada. Ele constrói políticas públicas com uma visão de longo prazo, considerando o impacto e os resultados futuros, em vez de focar apenas no retorno imediato.

A relação entre o semeador e o ladrilhador também pode ser analisada como duas formas distintas de governar. O “governante ladrilhador” tem ações mais racionais e impessoais visando a construção de uma sociedade pautada no interesse coletivo. Ou seja, existem regras para que todos possam usufruir melhor de suas liberdades. Por outro lado, um “governante semeador” tem por característica a falta de organização racional e impessoal. Da mesma maneira que um semeador joga sementes por perto para que nasçam as plantas, tal gestor público favorece os interesses daqueles que estão por perto para lhe beneficiar.

Diante desse cenário, como nossos gestores eleitos vão governar? Será que vão construir políticas sólidas e duradouras, ou apenas lançar projetos efêmeros para atender a demandas imediatistas? E mais importante: estamos, enquanto sociedade, preparados para exigir deles a postura ética necessária para que governem com responsabilidade e finalidade coletiva? A resposta a essas questões pode contribuir não apenas o futuro de nossas cidades, mas para própria efetivação de nossa democracia. Afinal, a qualidade do governo reflete, em última instância, o nível de engajamento e participação de seus cidadãos.

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