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Brasil e Venezuela: relações perigosas

Ana Cristina Piletti

No último dia 29 de maio, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, visitou o Brasil, sendo recebido com honras de chefe de Estado pelo atual presidente Luis Inácio Lula da Silva, que amenizou a ditadura chamando-a de “narrativa” criada pelos inimigos políticos.
De imediato, opositores, jornalistas e contrários ao sistema ditatorial venezuelano criticaram a visita e o discurso do presidente brasileiro. No mesmo dia, das 326 mil menções publicadas por mais de 76 mil autores com alcance estimado de 530, 3 milhões de pessoas nas redes sociais Twitter, Instagram, Facebook e Youtube, 59% foram manifestações negativas (CNN Brasil, 30/05/203). Ou seja, a aproximação entre os Estados não foi “vista com bons olhos” pelos brasileiros e, para alguns aliados do governo, foi considerada “um tiro no pé”.
O governo autocrático da Venezuela é criticado por desrespeitar os direitos humanos e os princípios democráticos. Em março desse ano, peritos da Organização das Nações Unidas alertaram sobre novos ataques a jornalistas e a sociedade civil contrários ao regime de Nicolás Maduro. No ano de 2022, mais de 716 pessoas morreram após protestarem contra o governo venezuelano (ONU, 23/03/2023).
Além da tensão política, a crise humanitária em razão da falta de alimentos, medicamentos e violência generalizada intensificou o fluxo migratório de venezuelanos para o Brasil, que cresceu em 900% entre 2015 e 2017 (UNODC, 2023). O crime organizado e o tráfico de drogas também são problemas que assolam a Venezuela e refletem no Brasil, tendo em vista a proximidade geográfica. O desmatamento e atividades ilegais na Amazônia geram desconfiança e mútuas acusações entre esses Estados fronteiriços. No mais, a Venezuela tem as maiores reservas de petróleo do mundo e outras fontes de energia que interessam à economia brasileira. Diante da proximidade física e dos problemas e interesses compartilhados não se pode ignorar a necessidade de relações diplomáticas entre essas nações.
Assim, do ponto de vista diplomático e econômico, os esforços para retomar as relações com a Venezuela, rompidas pelo governo brasileiro no ano de 2019, são compreensíveis e positivos. Contudo, ao negar ou tentar modificar a realidade com narrativas fictícias, as relações tornam-se perigosas, podendo minar a confiança do povo no governo brasileiro.

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