Reconhecer os acertos do atual governo é uma altivez
Carlinhos Marques
O Brasil vive um antagonismo político que impede que as ações positivas de qualquer governo sejam elogiadas ou comemoradas por aqueles que votaram e torcem para um outro candidato. Trata-se de uma rivalidade que passou das linhas da racionalidade, relacionado a ambos os lados, tanto os que defendem a esquerda ou à direita. Não é porque tenho um viés mais social que não posso reconhecer algumas boas medidas implantadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL); e o contrário também é necessário.
O mercado financeiro já entendeu que as dúvidas que pairavam sobre o atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foram desacreditas e o titular da Economia tem dado demonstrações de que está antenado sobre os mais recentes desafios da economia mundial. A proposta enviada pelo governo para o Congresso do novo arcabouço fiscal é prova disso. Ao mesmo tempo em que estabelece uma política anticíclica, capaz de o governo promover investimentos no momento de recessão, também estabelece controle dos gastos públicos, controle da dívida, atrelado ao crescimento do PIB, e responsabilidade dos gastos, em detrimento do perfil gastador de alguns líderes de seu próprio partido, o PT, que não esconderam a insatisfação com a proposta do Governo. O presidente Lula (PT) cobrou fidelidade dos petistas para aprovar a proposta de Haddad e sua equipe, que, entre as exceções do controle fiscal, estabelece aumento real do salário-mínimo e do benefício do Bolsa Família, todos os anos, que significa reajuste acima da inflação acumulada. Embora hajam ainda algumas desconfianças de seu cumprimento, o novo arcabouço é uma demonstração de responsabilidade com o gasto público.
Nos últimos anos, 2021 e 2022, principalmente, o Brasil viveu um pico na arrecadação pública, sobretudo por que a inflação de 2021 passou da casa dos 10%, voltando a assombrar a população brasileira, principalmente, os mais pobres. Nesse ano, o índice acumulado dos últimos 12 meses está próximo a 5%. A inflação de junho deve beirar a neutralidade, o que abre espaço para que o Banco Central possa reduzir a taxa básica de juros e reaquecer a economia, com o crédito mais barato para os investimentos e o consumo.
O Brasil vive, desde 2013, o que os economistas chamam de década perdida. Os erros dos governantes no passado, aqui não estou isentando nenhum presidente desde o período, abriram espaço para taxas de recessão ou de crescimento medíocres, diante de problemas cada vez mais corriqueiros. Agora, garantir a inflação estável, dentro da meta estabelecida, controlar os gastos públicos e ainda promover aumento real de salário para os mais pobres, com combustíveis mais baratos, além da retomada de programas importantes para a saúde, como ampliação dos Mais Médicos, recursos para o piso nacional da enfermagem, e para educação, como a retomada do Fies, a ampliação das vagas em creches e os investimentos em habitação, com o novo ‘Minha Casa, Minha Vida’, são conquistas para comemorar, independente de sua visão ideológica.
Jornalista e Publicitário; estudante de Economia