Entre a civilização e a barbárie
Carolina Saito
Faltam alguns dias para os brasileiros escolherem seus governantes e representantes federais e estaduais. Todas as eleições são importantíssimas, pois o que está em jogo é o retorno à civilização ou a continuidade da barbárie.
Para aqueles que acreditam que temos um presidente que defende Deus, a pátria e a família – slogan da Ação Integralista Brasileira, um grupo fascista da década de 1930 – saibam que não existe espaço para a democracia no fascismo, pois a pátria defendida por ele é aquela na qual os cidadãos sãos para os donos do poder meros serviçais sem direitos, inclusive à manifestação.
Os dois principais candidatos à presidência têm características e trajetórias distintas. O ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) foi metalúrgico, líder sindical e um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores. Sempre esteve junto aos trabalhadores na luta por melhores salários e condições de trabalho, sendo preso por isso durante da Ditadura Militar. Eleito e reeleito presidente da República, entre 2003 e 2011, o governo Lula levou o Brasil a ser respeitado mundialmente e tirou o país do mapa da fome.
Houve ainda crescimento do PIB, aumento das exportações, crescimento da produção industrial e redução do desemprego. O aumento do salário mínimo e as ajudas sociais, como a Bolsa Família, incrementaram o mercado interno com o aumento do consumo da população mais carente. Mais jovens pobres puderam realizar o sonho de ingressar e se formar em uma faculdade com a Lei de Cotas Raciais e o SISU (Sistema de Seleção Unificada).
Em abril de 2018, acusado de corrupção e condenado, em um verdadeiro espetáculo midiático, pelo ex-juiz Sérgio Moro, Lula ficou 580 dias preso em Curitiba. A prisão sem provas causou protestos de militantes e admiradores – que se revezavam acampados em frente à prisão – e de personalidades nacionais e internacionais. A campanha Lula Livre ganhou espaço no Brasil e no mundo. Lula foi libertado em novembro de 2019 e seus advogados continuaram trabalhando para provar a sua inocência que foi comprovada quando o STF anulou todas as ações contra ele por falta de provas e pela parcialidade do ex-juiz Sérgio Moro.
Diante dos horrores praticados pelo governo Bolsonaro, muitos políticos, jornalistas e influenciadores, que outrora defenderam o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), admitem que a prisão do ex-presidente Lula tinha por objetivo tirá-lo da disputa presidencial de 2018. Sem demonstrar rancor ou se vitimizar, Lula foi lançado candidato novamente prometendo devolver a esperança e acabar com a fome dos brasileiros. Mas desta vez com amplo apoio de todos que defendem a democracia.
O presidente Jair Messias Bolsonaro (PL) é militar reformado do Exército com uma curta carreira marcada por insubordinação, indisciplina e rebeldia, de acordo com o livro ‘O cadete e o Capitão’ – a vida de Jair Bolsonaro no quartel, de Luiz Maklouf Carvalho. Em 1986, Bolsonaro foi preso por escrever um artigo reclamando do salário na revista Veja. A prisão se deu porque ele infringiu as regras das Forças Armadas, segundo as quais os oficiais são proibidos de realizar manifestações públicas de caráter político. No ano seguinte, a Veja denunciou oficiais do Exército de planejarem atentados a bomba em prédios militares e Jair Bolsonaro estava entre os envolvidos. Em 1988, o superior Tribunal Militar o absolveu, mas ele foi reformado e proibido de retornar à Academia Agulhas Negras onde se formou e de entrar em outras instalações militares.
Ainda em 1988, Bolsonaro foi eleito vereador no Rio de Janeiro e em 1990 foi eleito Deputado Federal. Foi reeleito sucessivamente no mesmo cargo até se candidatar para Presidente da República em 2018. Venceu o candidato do PT, Fernando Haddad, no segundo turno, sem participar dos debates, disseminando fake news, defendendo o antipetismo, o antissistema e os torturadores.
O presidente Bolsonaro recebeu críticas, inclusive internacionais, pela má gestão da pandemia de Covid-19 e pela insensibilidade e falta de empatia diante do número crescente de internações e mortes.
A situação do povo é dramática: fome, desemprego e alta dos preços dos alimentos, dos combustíveis e do gás de cozinha. Nem tudo é culpa da guerra na Ucrânia e da pandemia, como querem fazer acreditar Paulo Guedes (ministro da Economia) e o presidente. O que vemos é a consequência da priorização dos interesses estrangeiros e de grupos econômicos nacionais.
O discurso de ódio tem colocado em perigo os candidatos e os eleitores. Bolsonaristas estão agredindo ou matando militantes petistas. Os adversários são vistos como inimigos que devem ser abatidos. Quando alguém pergunta aos seguidores mais mansos o que o seu mito fez de bom no governo, nem sabem dizer. Parece que foram submetidos a uma lavagem cerebral.
O que importa agora é a recuperação do Brasil para os brasileiros e para alcançar esse objetivo, adversários políticos de outros eleições estão unidos e recebendo apoio de setores importantes da sociedade. É preciso votar com consciência, tomar cuidado para não eleger os candidatos aos cargos legislativos ligados ao político que defende o discurso de ódio, pois o Brasil não pode continuar refém de um Congresso Nacional contra o povo.
Na disputa presidencial entre Lula e Bolsonaro, a escolha entre um candidato e outro significa optar pela ciência ou pelas trevas da ignorância, pela democracia ou pelo autoritarismo fascista, pelo amor ou pelo ódio, enfim, pela civilização ou pela barbárie.