CPI da COVID-19: espetáculo ou transparência?
Por Ana Cristina Piletti
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) foi instalada no Senado Federal em abril desse ano para apurar, em especial, as ações e omissões do Governo Federal no enfrentamento da pandemia da COVID-19. Desde então, acompanhamos embates entre os críticos da forma como a investigação tem sido conduzida e os defensores de seus métodos e resultados.
Os críticos da CPI têm a comparada à um reality show ao estilo Big Brother Brasil, utilizada por alguns parlamentares e depoentes como palanque para promoção pessoal e engajamento do eleitorado nas redes sociais. Basta observar o Índice de Popularidade Digital, métrica criada pelo instituto de pesquisa Quaest para avaliar o desempenho midiático de personalidades, evidenciando que população está “de olho” nas ações de parlamentares e depoentes para votar em que vai permanecer ou ser eliminado da casa nas próximas eleições.
Por outro lado, é inegável que a CPI tem se revelado um instrumento legislativo fundamental para monitorar e fiscalizar as ações do Governo Federal, bem como fornecer respostas à população sobre os motivos e os possíveis responsáveis pelo o excesso de mortes no país assolado pela pandemia.
Até o momento, ficou evidente que o “jeito Bolsonaro de ser e governar”, ignorando recomendações das autoridades mundiais de saúde, desestimulando o uso de máscaras e de distanciamento social, promovendo aglomerações, incentivando o uso de medicamentos comprovadamente ineficazes e negligenciando a compra de vacinas contribuiu para a crise sanitária (EL PAIS, 18/04/2021). Pesquisadores afirmaram que cerca de 400 mil mortes poderiam ter sido evitadas com uma postura diferente de liderança. No mais, a recente suspeita de corrupção na compra de vacinas diminuiu ainda mais a credibilidade e a popularidade do presidente, aumentando as críticas e a pressão da oposição.
Assim, entre o uso midiático da CPI e o seu potencial democrático de fiscalização e transparência, ainda há muito para evoluir com relação as técnicas e posturas na investigação dos fatos. Contudo, cidadãos com a memória mais apurada e atentos às armadilhas das mentiras repetidamente contadas, possivelmente, conseguirão extrair a verdade por trás de qualquer espetáculo.