O Ministro e o Professor
Claudino Piletti
Num grande país daqui bem distante, viviam um poderoso ministro do Supremo Tribunal Federal, que recebia todo tipo de mordomia para tirar criminosos da cadeia, e um humilde professor de filosofia em escola de periferia que recebia uma mixaria para tirar alunos do caminho do crime.
O que o ministro recebia só de auxílio-paletó para participar de algumas reuniões mensais era mais do que o professor recebia como salário por 32 aulas semanais em classes com até 50 alunos. E, pasmem, o tal de auxílio-paletó era quase nada comparado ao alto salário e aos inúmeros benefícios e privilégios com os quais o ministro contava. Um dos privilégios era o de ter à sua disposição, para ajudá-lo em problemas mais complexos, um grupo de assessores.
E, por falar em problemas complexos, o ministro, em certa ocasião, recorreu aos assessores para ajudá-lo a resolver um que o afligia dia e noite: o de sentir-se tremendamente infeliz. Para superá-lo ele consultou uma famosa cartomante que lhe disse: “Meu caro ministro, as cartas revelaram-me que só será feliz no dia em que vestir o paletó de um homem feliz”.
Sem pestanejar, o ministro ordenou a seus assessores que vasculhassem o país em busca desse homem e lhe comprassem o paletó. Eles, obedientes e mais que depressa, saíram a campo. E, pensando encurtar caminho, foram diretos ter com o homem mais rico do país e um dos mais ricos do mundo. Ao chegarem à cinematográfica mansão do ricaço, ficaram boquiabertos com as motos e carros importados estacionados em diversas garagens, e, sobretudo, com o cintilante Lamborghini estacionado no centro da sala da mansão. Além disso, o homem era proprietário de iate, navios, aviões, helicóptero, etc. Os assessores, que pensavam estar diante do homem mais feliz do mundo, ficaram surpresos ao ouvi-lo confessar que não era feliz.
Foram, então, ter com o melhor jogador de futebol do país e um dos melhores do mundo que, além de mansão, motos, carros, iate, avião, helicóptero, etc. podia ter a mulher que desejasse à hora e local que lhe apraze-se. Mais uma surpresa: disse que não era feliz.
Ouviram a mesma resposta tanto dos ricos quanto dos pobres que entrevistaram. E não foram poucos. Desanimados e quase desistindo da incumbência, resolveram tentar a sorte numa pequena cidade situada à beira de grande represa e que ainda tinha algumas matas e cascatas. Lá, foram diretos ao homem mais rico da cidade, da qual foi prefeito por várias vezes, que confessou não ser feliz. Andaram pela cidade indagando as mais diversas pessoas, sem encontrar uma que se declarasse feliz.
Andando e indagando, quando perceberam estavam na periferia, onde, ao lado de uma favela, havia a escola. Ouviram, então, através da janela de uma das salas de aula, alegres risadas de alunos. “Alunos rindo”, raciocinaram os assessores que “devem ser alunos felizes, o que só é possível se tiverem um professor feliz”.
Raciocínio correto! Por isso, lá foram eles para, após autorização da diretora da escola, entrevistar o mestre, que os recebeu alegremente. De cara, um dos assessores lhe perguntou: “Você é feliz?” Ao que ele respondeu: “Como não o seria, lecionando filosofia, o saber cujo objetivo é ensinar pessoas a serem felizes?”. Então, esperançoso, o assessor lhe propôs: “Tem, agora, a chance de ser ainda mais feliz, pois, pode receber bom dinheiro vendendo-nos um de seus paletós”. Ao que o professor retrucou: “Não posso”. “É claro que pode”, disse-lhe o assessor, “pois, é negócio limpo, sem essa de lavagem de dinheiro”. Meio sem jeito, o professor explicou: “O problema não é esse… É que eu não tenho paletó”.