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A quem interessa uma sociedade na qual pensar não é prioridade?

Ana Cristina Piletti

A Educação é uma das áreas que mais tem gerado controversas no atual governo. Além da troca de ministros em menos de cinco meses de gestão, acompanhamos o alto número de funcionários demitidos de cargos estratégicos e declarações que tem causado preocupação. Um exemplo recente foi a publicação do então Presidente da República em suas redes sociais, na qual propôs a redução de verba para os cursos de Filosofia e Sociologia no país, defendendo o posicionamento de seu mais novo Ministro da Educação. Entre as justificativas para tal medida, destacou a necessidade de se investir em áreas que gerem retorno imediato e focar numa formação que gere renda.
Não foi por acaso que especialistas, professores e entidades acadêmicas indignaram-se. Para a Associação Nacional de Pós-graduação em Filosofia “As declarações do ministro e do presidente revelam ignorância sobre os estudos na área, sobre sua relevância, seus custos, seu público e ainda sobre a natureza da universidade […]”. Em nota, a Associação Brasileira de Antropologia, a Sociedade Brasileira de Sociologia, a Associação Brasileira de Ciência Política e a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais posicionaram-se “é tão equivocado e enganoso avaliar as diferentes disciplinas e a reflexão filosófica pela sua aplicabilidade imediata quanto desconhecer a importância histórica das ciências sociais e das ciências sociais aplicadas no desenvolvimento de diferentes tecnologias voltadas à resolução de graves problemas da sociedade” (G1, 26/04/2019).
Contudo, o desconhecimento histórico, a falta de reflexão e o imediatismo parecem marcar uma nova forma de se fazer política e de se governar, bastando lembrar o influente papel que as notícias falsas compartilhadas nas redes sociais tiveram nesta corrida eleitoral. Até mesmo a Embaixada da Alemanha e, posteriormente, os dirigentes do Museu do Holocausto em Israel, precisaram esclarecer para representantes do governo brasileiro que o nazismo foi uma ideologia de extrema-direita e não de esquerda. Numa crítica ao ataque do Ministério da Educação às Ciências Humanas, o economista e ex-ministro da Fazenda Antonio Delfim Netto afirmou: “Para responder ao espírito crítico do ‘marxismo cultural’, é preciso enfrentá-lo, com argumentos lógicos e antropológicos, não incendiar a universidade e tentar substituí-lo pelo seu equivalente —de sinal contrário— o ‘direitismo cultural’” (GGN, 01/05/2019)
Diante de tantas polêmicas e contradições, carecemos justamente de argumentos lógicos, históricos e antropológicos, aspectos que não parecem ser prioridades para o governo neste momento. E, neste sentido, já afirmava Adolf Hitler “Que sorte para os ditadores que os homens não pensem”!

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