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A expectativa é que o congresso de Ibiúna carimbe a história”, diz presidente da UEE-SP

Depois de ter sido palco de um dos maiores atos de opressão da ditadura militar contra o movimento estudantil brasileiro, há 45 anos, a cidade de Ibiúna foi escolhida pela União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE-SP) para sediar o 11º Congresso da entidade, evento que se realizará no município entre os dias 14 e 16 de junho. Na entrevista abaixo o presidente da UEE-SP, Alexandre Cherno Silva, fala sobre o evento que irá reunir milhares de estudantes em Ibiúna e comenta as principais pautas do movimento estudantil paulista e brasileiro.
Qual sua expectativa quanto ao congresso que está prestes a ser realizado:
Alexandre: A expectativa é que o congresso de Ibiúna carimbe a história. Este evento em Ibiúna, quarenta e cinco anos após o congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes) em que 700 estudantes foram presos, não apenas tem muito a ver com a atual fase da nossa juventude, mas também com as responsabilidades que são nossas. Ao levar este encontro para Ibiúna nos remetemos à nossa memória para afirmar o nosso passaporte para o futuro. Isso significa que todas aquelas lutas travadas em defesa do Brasil se convertem em memória, de modo que possam representar a anistia ao grande congresso de 68 e mostrar a evolução daquele movimento estudantil até os dias atuais.
A geração de 68 ainda influencia os jovens de hoje?
Alexandre: Aquela juventude de Ibiúna preparou todas as condições para que o movimento estudantil fosse o que é hoje. Durante o congresso queremos mostrar para a sociedade que os movimentos de 1968 e 2013 têm um elo de ligação na sua memória, na sua raiz e na sua forma de entender a sociedade, com um histórico de lutas que ampliaram os direitos dos jovens. Neste ano queremos terminar o congresso na democracia, afirmar nossas vitórias e lembrar daquele movimento de 68 como um movimento que nos formou e nos ensinou sobre as responsabilidades que temos atualmente.
Na prática, como o congresso de 68 será lembrado no evento deste ano?
Alexandre: Desde o último mês de abril, a UEE-SP deu início aos trabalhos da “Comissão da Verdade Alexandre Vannucchi Leme”, órgão que criamos para identificar e reconhecer casos de perseguição, tortura e morte de estudantes durante a ditadura militar. A primeira vitória desta Comissão ocorreu no último dia 25 de abril, quando o secretário nacional de Justiça, Paulo Abrão, confirmou que o governo irá acelerar o julgamento dos processos de anistia dos estudantes presos em Ibiúna em 68. O ato político que irá representar a anistia desses estudantes será realizado durante o nosso congresso, onde dois processos serão julgados por representantes da Comissão Nacional da Verdade no dia 15 de junho. Fora isso, faremos homenagens aos líderes de 68 que estarão presentes no evento e apresentaremos os primeiros trabalhos da nossa Comissão da Verdade.
Qual o papel da UEE-SP na democratização do ensino superior paulista?
Alexandre: A UEE é uma entidade que tem pouco mais de 60 anos de história, ou seja, de luta pela democratização do ensino, pelo desenvolvimento do Estado de São Paulo e do Brasil. Nossa luta hoje se pauta por um projeto maior de reforma universitária proposta pelos estudantes, projeto que surge na década de 60 com a “UNE Volante” discutindo, nos mais diversos estados, o papel da universidade e sua responsabilidade com a democratização do Brasil e com o desenvolvimento nacional. A UEE carrega consigo todo esse arcabouço teórico que foi construído pelo movimento estudantil, traduzindo no estado de São Paulo o que seria uma reforma universitária dos estudantes. Atualmente essa discussão diz respeito a mudar o perfil dos estudantes paulistas como já aconteceu no resto do Brasil, ampliando o acesso ao ensino superior. A universidade pública de São Paulo é referência nacional, mas precisa mudar porque apenas 5% de seus alunos são negros e menos de 30% são oriundos de escolas públicas.
A permanência dos estudantes nas universidades também é algo que precisa melhorar?
Alexandre: Sem dúvida, e atualmente essa é uma das principais bandeiras da UEE. Quando lutamos por um maior acesso dos estudantes às universidades não podemos deixar de lutar pela permanência desses alunos nas instituições de ensino. Hoje temos vários programas federais de acesso que são exemplos de políticas bem sucedidas, como o ReUni e o ProUni, mas ainda temos um problema sério: cerca de 20% a 30% dos estudantes contemplados por esses programas deixam de cursar o ensino superior porque não conseguem se manter na universidade. Para resolver essa questão estamos trabalhando num Plano Estadual de Permanência Estudantil em que as universidades estaduais paulistas tenham restaurante universitário, atendimento médico, odontológico e psicológico, entre outros serviços.
E a questão do transporte para os universitários, não é um fator que contribui para essa alta evasão?
Alexandre: Essa também é uma preocupação da UEE-SP. Temos um projeto de lei que está em tramitação na Câmara de São Paulo que garante gratuidade no transporte de estudantes bolsistas do ProUni, alunos que, comprovadamente, são de baixa renda. Como a Capital abriga as principais universidades privadas paulistas, acreditamos que apresentar esse projeto na cidade pode servir de modelo para todo o Estado.
E em relação às conquistas obtidas pela UEE nos últimos anos:
Alexandre: Uma das coisas mais importantes que a UEE conseguiu nos últimos anos foi reorganizar o movimento estudantil paulista. Por meio do projeto UniverCidade organizamos caravanas que rodaram todas as regiões administrativas do Estado para discutir políticas públicas para os municípios e a relação da universidade com a comunidade. Outra conquista importante foi a questão da destinação de 10% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional à educação, bandeira oriunda da reforma universitária e pela qual estamos na briga para que seja implementada. Há também outras questões fundamentais como o fato de 60% da sociedade brasileira ter aprovado o sistema de cotas e a apresentação de uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) estadual para criar um fundo social sobre os recursos do pré-sal que São Paulo tem direito, além de destinar 50% dos royalties do petróleo para educação, ciência e tecnologia, e meio ambiente. Por essas e outras ações podemos dizer que o movimento estudantil paulista está fortalecido e continuará atuando como protagonista nas principais discussões que envolvem a juventude do nosso país.

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