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Vida: diversão ou jogo pra valer?

Num jogo entre o São Paulo – que precisava vencer para seguir na Libertadores – e o Atlético Mineiro – já classificado – o jogador atleticano Ronaldinho Gaúcho causou polêmica ao declarar que, para ele, era apenas um treino e queria mais é se divertir. Na ocasião, o São Paulo venceu por 2×1 e se classificou. Numa partida seguinte, o Atlético precisava vencer o São Paulo para ir à próxima fase. E, venceu por 4×1. Então, Ronaldinho conclui sua entrevista dizendo: “Quando é pra valer, é pra valer!”
Assim, é em nossa vida… Há tempo de treino e diversão e tempo de jogo pra valer. Segundo a própria Bíblia, “tudo tem seu tempo, o momento oportuno para todo propósito debaixo do sol.” (Eclesiastes, 3,1). Há, portanto, tempo para ser sério e momentos para ser gudério, isto é, andar vagando por aí sem ocupação séria.
De acordo com nosso escritor Erico Veríssimo (1905-1975), “é muito perigoso um homem levar-se demasiadamente a sério.” E, há quase dois mil e quinhentos anos, o historiador grego Heródoto observou: “Se um homem insistisse em ser sempre sério, não se concedendo nunca um momento de diversão e relaxamento, ou adoeceria ou se tornaria maluco sem sabê-lo.”
Maluco nada tem a ver com Maluf, que é sério, mas também divertido. Tanto que, em certa ocasião, após dizer que, para ele, viver é lutar, declamou de Gonçalves Dias (1823-1864): “Não chores, meu filho;/ Não chores que a vida/ É luta renhida:/ Viver é lutar./ A vida é combate/ Que os fracos abate,/ Que os fortes, os bravos/ Só pode exaltar.”
Divertido e sério esse Maluf! Mais sério do que ele só homem de negócios que aparece no belo livro O Pequeno Príncipe do escritor Saint-Exupéry. O homem “estava tão ocupado que não levantou sequer a cabeça à chegada do príncipe.
– Bom dia, disse-lhe este. O seu cigarro está apagado.
– Três e dois são cinco. Cinco e sete, doze. Doze e três, quinze. Bom dia. Quinze e sete, vinte e dois. Vinte e dois e seis, vinte e oito. Não há tempo para acender de novo. Vinte e seis e cinco, trinta e um. Uf! São pois quinhentos e um milhões (…)
– Quinhentos milhões de quê?
– Hein? Ainda estás aqui? Quinhentos e um milhões de… eu não sei mais… Tenho tanto trabalho. Sou um sujeito sério, não me preocupo com ninharias (…)
– Quinhentos milhões de quê! repetiu o principezinho, que nunca na sua vida, renunciara a uma pergunta, uma vez que a tivesse feito.” (1964: 46-47)
Mas, apesar da insistência do príncipe, o homem não disse o que eram os quinhentos milhões. Segundo intérpretes da citada obra, seria grana que o sujeito desviou para o exterior. É claro que ele sempre negou ter contas no exterior.
Mais uma vez, nada a ver com o Maluf que, coitado, nem fuma. Estou até pensando seriamente em entrar pro partido dele, pois temos um amigo em comum: o Lula. Vejo que há pessoas sérias neste país que tem e terá ainda mais diversão: futebol à beça, novelas, brigas políticas, eleições, olimpíadas, etc. Não será por falta de diversão que acabaremos malucos!

Claudino Piletti

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