Colunistas

Que falta nos faz um Cícero…

Claudino Piletti

Há o jogador de futebol Cícero, que o São Paulo desprezou e o Grêmio contratou. E, diga-se de passagem, ajudou o time gaúcho a conquistar diversos títulos. Sem desprezá-lo, vou falar de outro Cícero que, apesar de não ter jogado futebol, pois, em seu tempo, ainda não existia, bateu um bolão no Senado Romano.
Refiro-me ao filósofo, orador e senador romano Marco Túlio Cícero (106-43 a.C.), cognominado de Pai da Pátria que, reprovando a perversidade dos homens do seu tempo, exclamava: “Ó tempus! Ó costumes! (em latim: O tempora! O mores!)
Mas, os tempos e costumes da época dele, não eram piores dos que os da nossa. Na realidade, ele combatia sobretudo um tal de Catilina, senador corrupto que tentava dissolver o Senado e tomar o poder. Cícero começa o seu mais célebre discurso contra Catilina – as Catilinárias – com essa frase: “Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência?”
Tão importantes são as Catilinárias que, uma das fases da Lava Jato, foi denominada de “Operação Catilinárias”. Mas, além das Catilinárias, Cícero é autor de outras obras, das quais destaco as seguintes frases: “Que o bem estar do povo seja a lei suprema”; “em meio às armas calam-se as leis”; “que as armas cedam à toga”; “como tiveres semeado, assim hás de colher”; “os bens mal adquiridos esvaem-se do mesmo modo”.
É o que vem ocorrendo com diversos de nossos políticos. Alguns, inclusive, graças à atuação do Ministério Público, estão presos. Falta-nos, porém, um Cícero que, da Tribuna do Senado, denuncie, com seus discursos, os corruptos. Mas já tivemos senadores comparáveis a Cícero. Um deles foi o alagoano Teotônio Vilela (1917-1983), cognominado Senador da Anistia, das Diretas Já, Guerreiro da Paz, Peregrino da Democracia, Menestrel das Alagoas e Senhor Dignidade. Ele costumava convidar o povo brasileiro a redescobrir a nação e a restaurar o sentimento de Pátria.
Outro foi o gaúcho Paulo Brossard (1924-2015), um combativo senador que não deixou nossos Catilinas em paz. Tal era a ignorância da maioria deles que afirmou: “Se Deus limitou inteligência, deveria ter limitado, também, a burrice “.
Um terceiro foi outro gaúcho, o Pedro Simon (1930), que afirmou: “Eu me considero uma pessoa guerreira como tantas outras”; “o mundo está de cabeça para baixo e ninguém me avisou”; “essa escalada de denúncias retrata um país de ladrões impunes”.
Se, em tempos passados, tivemos, em nosso Senado, alguns Catilinas e um Cícero para combatê-los, parece que, hoje, só há Catilinas. E, para as próximas eleições, só vemos candidatos Catilinas. Assim, com Cícero, só nos resta exclamar: Ó tempos! Ó costumes!

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