Colunistas

Os políticos e o inferno

Claudino Piletti

Há um livro escrito por Leandro Karnal e Monja Coen que, atualmente, encabeça a lista dos mais vendidos, cujo título é “O inferno somos nós”. Para o célebre filósofo francês Jean-Paul Sartre (1905-1980), porém, “o inferno são os outros”. E, para nós brasileiros, o inferno seriam os políticos? Não acho que eles sejam. Acredito, no entanto, que eles são os principais responsáveis pelo inferno em que muitos brasileiros vivem. E que, por isso, além de serem candidatos a reeleição, são sérios candidatos ao inferno.
O mais revoltante é que eles transformaram lugares que tinham tudo para serem paraísos, em infernos. Exemplo disso, entre outros, é o Rio de janeiro, outrora cidade maravilhosa e, atualmente, um inferno.
Hoje, alguns dos responsáveis pelo fato do Rio e do próprio país terem se tornado, para muitos, um inferno, estão presos. E, como se sabe, nossas cadeias são um inferno. São, portanto, um inferno dentro do inferno. Mas, mesmo assim, são um refresco se comparadas ao lugar onde o famoso poeta italiano Dante Alighieri (1285-1321), na sua obra “Divina Comédia”, situa os corruptos. Situa-os na 5ª fossa do 8º círculo do Inferno. Ou, como vulgarmente se costuma dizer, no quinto dos infernos, onde estão imersos em piche fervente e, ao levantar a cabeça, demônios lhes disparam flechas.
Dante reservou o nono e mais extremo círculo infernal para os traidores. E, nele, na quarta e última fossa, estão, entre muitos outros, Judas, Brutus e Cássio. Os traidores recebem a distinção de serem torturados pessoalmente por Satanás. Assim, nossos políticos que traíram seus eleitores, também receberão essa distinção.
Acredito que, no tempo de Dante, ainda não havia ladrões de merenda de crianças. Caso contrário, ele os teria colocado num panelão de leite fervente. E, como merenda receberiam apenas bolacha de maisena e leite diluído em água, por toda a eternidade.
Segundo alguns, inferno é conversa para boi dormir. E, a Divina Comédia, é apenas uma obra literária, cujo inferno é só uma metáfora. Mas, mesmo assim, nos faz pensar… O bom senso, portanto, nos diz que, de um jeito ou de outro, o inferno deve existir. É o que disseram profetas, teólogos, historiadores da religião e o próprio Jesus Cristo. Mas eles nos disseram, também, que ninguém irá para lá sem o merecer. E, ainda, que é o próprio ser-humano que, no fundo, se coloca nessa situação ao, entre outras práticas, roubar. “Ninguém pode roubar sem que Deus depois dê um castigo merecido”, afirmou, em certa ocasião, o cardeal Dom Paulo Evaristo Arns.
Acho prudente, portanto, seguir o que ensina um velho provérbio napolitano: “Seja honesto, até mesmo por esperteza”.

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