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Brasileiro: profissão desesperança?

Claudino Piletti

Numa eleição, há diferentes tipos de voto. Há o da desilusão, que é daqueles que nem vão votar e, se vão, anulam o voto ou votam em branco. Há o da desobrigação, ou seja, daqueles que só vão votar porque o voto, em nosso país, é obrigatório. Estes votam nos candidatos que, na hora, lhes der na telha. Há o voto obrigação, daqueles que devem favores a algum candidato. Há o voto gozação, daqueles que votam nos tiriricas da vida. E, finalmente, há o voto esperança que é o daqueles que votam consciente e criteriosamente, na esperança de mudar, para melhor, o nosso país.
Não saberia dizer quanto voto esperança haverá na próxima eleição. Só sei que são tantas desilusões com nossos políticos que, em época de eleição, sempre recordo da inscrição que o poeta italiano Dante (1265-1321), na Divina Comédia, colocou no portão do inferno: “Lasciate ogni speranza, voi ch’entrate”. (Deixai toda a esperança, ó vós que entrais).
Sempre que vou votar, tenho a impressão de ler, sobre a porta da sala de votação, a seguinte inscrição: “Lasciate ogni speranza, voi che votate”. (Deixai toda a esperança, ó vós que votais).
A proposito, o próprio ex-ministro Joaquim Barbosa deve ter deixado a sua esperança, pois, ao desistir de ser candidato a presidente, declarou: “Esta eleição não vai mudar o Brasil” (Veja, 16/05/2018)
Ter esperança é bom até para a saúde. Mas, esperar conseguir alguma mudança no país através do voto, nesse atual sistema eleitoral, é acreditar em Papai Noel. Como esperar algo de uma eleição em que os partidos, que têm donos, é quem indicam os candidatos? Sem contar que, segundo o comediante e humorista americano Will Rogers (1879-1935), “nenhum partido político é tão ruim quanto seus líderes”. E são eles que decidem o que fazer com o dinheiro do fundo partidário.
Para piorar a situação, há, em muitos estados do país, o famigerado coronelismo, uma distorção eleitoral baseada no poder econômico, familiar e no prestígio pessoal. Quanto maior for a pobreza material e cultural de uma região, maior será o poder dos “coronéis”.
Por essas e por outras, considero atual a afirmação de D. Pedro II: “As eleições, como elas se fazem no Brasil, são a origem de todos os nossos males políticos”. Só não considero atual a peça teatral “Brasileiro: Profissão Esperança”, de Paulo Pontes, que remonta a aura do Rio de Janeiro dos anos 50, capital brasileira que, com todo o seu charme e boemia, calçou os “anos dourados” do país. A peça faz um retrato doce da alma brasileira e, principalmente, daquilo que tem sido seu motor desde muito tempo: a esperança. Hoje, talvez, tenha que ser escrita outra peça, com o triste, mas realista título: “Brasileiro: Profissão Desesperança”. Ou, você sugere outro título?

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